"caminhando e cantando e seguindo a canção(...)vem vamos embora que esperar não é fazer, quem sabe faz a hora e não espera acontecer"....Autor: O MAIOR BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS GERALDO VANDRÉ."Geraldo Vandré foi um divisor de águas, existiu um Brasil antes e outro Brasil depois dele. Os outros cantores da MPB que me perdoe mas ele é o maior ídolo" Escrito por Cleiton Lopes Cabral
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Arquivo DOPS da ditadura sobre Geraldo Vandré
como o video não abriu diretamente pelo blog segue o link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=DH0NjgXE0OY
Joan Baez e Geraldo Vandré no palco - Veja Geraldo Vandré por outro angulo
como a video não abriu direto no blog segue o link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=ThIqzq60Y8s
imagens raríssimas de Geraldo Vandré cantando na Alemanha em 1970, período em que esteve exilado do Brasil, as imagens são da WWF
Como as Ferramentas do blog não salva o video direto segue o link abaixo
https://www.youtube.com/watch?v=kuFsY5BvGe8
https://www.youtube.com/watch?v=kuFsY5BvGe8
domingo, 11 de maio de 2014
sábado, 10 de maio de 2014
Geraldo Vandré - O plantador
sexta-feira, 9 de maio de 2014
MPORTANTE APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA VIDA DE GERALDO VANDRÉ NO SITE MILITÂNCIA VIVA
IMPORTANTE APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA VIDA DE GERALDO VANDRÉ NO SITE MILITÂNCIA VIVA DISPONIVEL NO SITE http://militanciaviva.blogspot.com.br/2012/11/geraldo-vandre-o-morto-vivo-da-ditadura.html
GERALDO VANDRÉ: O MORTO-VIVO DA DITADURA DO BRASIL
[overmundo]

Só existem dois mitos na música brasileira: Elis Regina e Geraldo Vandré. Elis com a sua morte precoce, aos 36 anos, e Geraldo Vandré com a sua renúncia à vida, na “volta” do exílio em 1973.
Geraldo Vandré se transformou num morto-vivo aos 38 anos de idade. Está atualmente com 77 anos. Como se vê, tem mais anos como morto insepulto do que vivo.
O que teria ocorrido para que esse paraibano de João Pessoa abandonasse uma carreira artística tão promissora que em pouco tempo fez dele o maior compositor brasileiro? A resposta é muito simples e está nestes versos:
“... Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”
Em 1968, estes versos foram cantados pelo próprio Vandré se acompanhando ao violão para delírio de 30 mil pessoas que lotavam o Maracanãzinho que vaiavam estrepitosamente a música “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque. Vandré pegou o microfone e falou: “A vida não se resume a festivais”.
Gravada logo em seguida, surpreendentemente, por Luiz Gonzaga, a música seria logo proibida depois do advento do AI 5, afinal nenhuma ditadura militar toleraria versos tão provocantes e verdadeiros. Mas essa era a característica marcante das canções de Vandré: ele era um doutrinador, um domador de consciência das massas, e se esse papel já preocupa os regimes democráticos, imagine o estrago que causou na ditadura militar brasileira e depois na chilena! Nenhum outro compositor brasileiro de antanho teve essa incrível capacidade que ele demonstrou.
Sim, Geraldo Vandré foi para o Chile. Iria fazer um show em Brasília em dezembro de 1968 acompanhado por um grupo de músicos no qual estava incluído o pernambucano Geraldo Azevedo, quando foi avisado pela então mulher de Caetano, Dedé Veloso, de que os milicos estavam à sua cata para prendê-lo e quem sabe fazer o que dele?
Disse Vandré a Geneton que voltou para São Paulo guiando seu carro. As coisas não aconteceram bem assim. Ele se refugiou na casa da viúva do escritor Guimarães Rosa e de lá só saiu para embarcar para o Chile devidamente “preparado” para que não fosse reconhecido pela Polícia Federal. Conseguiu fugir do país com um passaporte falso arrumado por amigos. Era fevereiro de 1969.
No final daquele mesmo ano ele gravou um compacto no Chile com duas músicas: 1) Caminhando (na versão em espanhol) e 2) Desacordonar. Esta última canção eu considero a maior que ele fez. Ela trazia mais conscientização de massas e mais problemas para ele com os militares, desta vez os chilenos. Os serviços de inteligência das Forças Armadas de lá passaram a monitorar seus passos.
Em novembro de 1970, Salvador Allende tomou posse na presidência do Chile para desespero de Richard Nixon, da CIA e do regime ditatorial brasileiro.
Geraldo Vandré partiu para a Europa nesse mesmo ano e na França gravou um disco primoroso que somente seria lançado no Brasil em 1973: “Das Terras de Benvirá”. Juntou-se a músicos brasileiros e fez uma turnê por diversos países. Foi por esse tempo que conheceu o músico Marcelo Melo que estudava na Bélgica e em 1971 regressaria ao Brasil fundando com outros músicos o Quinteto Violado. Foi também desse período a sua prisão com um grupo de amigos na França porque faziam uso do haxixe. Ele que era casado com uma chilena, passou a viver um drama pessoal porque a mulher o abandonou e voltou ao seu país. Geraldo, querendo salvar seu casamento, voltou ao Chile em 1972 e nesse mesmo ano participou de um festival de música no Peru. Antes desse disco lançado na França, o Brasil já contabilizava quatro LP seus: 1) Geraldo Vandré – 1964; 2) Hora de Lutar – 1965; 3) 5 Anos de Canção – 1966; 4) Canto Geral – 1968.
No meado de 1973, o Chile era uma agitação sem fim. A CIA financiava os empresários chilenos para que estes fizessem greve paralisando a atividade de comércio, indústria e transporte com o fim de desestabilizar o governo Allende e os militares já se organizavam para dar o bote final pela tomada do poder. No começo de julho de 1973, os militares chilenos puseram a mão em Vandré e comunicaram a seus colegas brasileiros. Não o queriam lá. Um avião da FAB foi destacado para ir buscar o ilustre “fisgado” no Chile.
Foi nesse vôo do Chile para o Brasil que Vandré conheceu o seu santo salvador, ou o seu anjo da guarda. O militar, um coronel aviador da FAB era seu admirador e sabia o que o aguardava no Brasil. Temia até pela sua vida. Com o desembarque em terras brasileiras, o Exército deu sumiço a Vandré por 58 dias, mas o anjo da guarda sempre descobria onde ele estava e não permitia que ele morresse nas sessões de tortura. Apesar dessa intervenção em seu favor, notícias de bastidores militares dão conta de que Vandré sofreu lavagem cerebral, internação em hospital psiquiátrico e até a perda dos testículos! Tudo isso para aprender a não fazer mais canção dizendo que “militar vive sem razão”. Quando ele morrer de fato e de direito, seu cadáver deverá ser examinado para esclarecer sua comentada emasculação perante a história política deste país.
Com o compositor já transformado no trapo que os militares queriam, “apareceu” no aeroporto de Brasília justamente em 11/09/1973, data em que Pinochet deu o golpe fatal, matou Allende e ocupou o poder. Vandré surgiu como se tivesse desembarcado do Chile naquele momento! Como se isso fosse possível naquele fatídico dia 11 de setembro chileno quando ninguém entrava ou saía do país. Por incrível que pareça, estava de plantão no aeroporto um repórter da Rede Globo à espera dele que o entrevistou e ouviu sua “confissão” de que dali em diante somente faria “canções de amor”. Gilberto Gil, em 1972, foi obrigado a dizer coisa parecida! Pronto, a partir dessa entrevista estava morto o grande artista Geraldo Vandré.
Vandré tornou-se até agressivo com seus fãs. Morando no centro de São Paulo, certa vez foi reconhecido por um deles que gritou: Vandré!!! Ele respondeu de modo áspero: “meu nome agora é Geraldo Pedrosa, porra”!
Elba Ramalho, como amiga dele que era, teve que aturar as suas esquisitices por um bom tempo, andando com ele pra cima e pra baixo, até que lhe pediu autorização para gravar “Canção da Despedida” e ele a negou. Inconformada ela ligou para o outro parceiro de Vandré na música, Geraldo Azevedo, que procurou falar com ele. Pra vocês terem uma idéia, Vandré permitiu que a música fosse gravada somente com o nome de Geraldo Azevedo como autor porque ele não queria que o nome dele aparecesse mais em discos gravados no Brasil. Aconteceu em 1983, por ocasião da gravação do LP “Coração Brasileiro”. A música foi composta em dezembro de 1968 quando Vandré pressentiu que não mais poderia ficar no Brasil. Isso demonstra para qualquer ser vivo como Geraldo Pedrosa matou Geraldo Vandré ou o obrigaram a fazer isso. Elba Ramalho, na época, o chamou de louco. Fácil não é, Elba? Você passou por tudo aquilo? Geraldo Azevedo não disse nada porque ele foi preso duas vezes e severamente torturado, chegando a presenciar a morte de um “subversivo” nas mãos dos torturadores.
Voltando ao tema autorização de Vandré, o mesmo aconteceu com Marcelo Melo em 1997 quando o Quinteto Violado lançou um CD em sua homenagem e também com Zé Ramalho, já neste século XXI, que gravou “Fica Mal Com Deus” fazendo um dueto póstumo com Luiz Gonzaga. Vandré não autorizou absolutamente nada!
A conclusão lógica de todo esse mistério é que Vandré foi forçado a essa situação dolorida: ou parava com a sua arte de cantor/compositor ou morria. Ele não teve escolha! Ah, mas antes disso ele fez uma canção para a FAB que se chama “Fabiana”, que foi apresentada aos militares da Aeronáutica em 1976. Não me perguntem por que ele não fez música pro Exército também. Agora o que deveria ser perguntado era o porquê de Geraldo Vandré continuar mudo depois de 1985, quando os milicos deixaram o poder. Ah, ele não tem tempo. Ocupa-se em fazer músicas em espanhol e também compor sinfonias!
Criticar Geraldo Vandré por sua opção para continuar vivo é muito cômodo. Difícil é passar por tudo o que ele sofreu e demonstrar ainda alguma lucidez numa entrevista. Pois ele a mostrou! Se bem que é facilmente perceptível que em alguns momentos ele faz confusão mental, mas em certos trechos da entrevista ele é impressionante! Fiquei besta quando publiquei esta entrevista dele com o Geneton em 2010, no final daquele ano, pois um compositor que tenho em alta conta ocupou a postagem para dizer que Vandré é um fantoche. Que ele nunca existiu para a música brasileira. É imensamente triste constatar que o Brasil perdeu o respeito por Geraldo Vandré!
Entenderam agora o motivo pelo qual ele concedeu a entrevista vestido com uma camisa branca com o distintivo da FAB, compôs uma canção chamada “Fabiana” em sua homenagem e quando vai ao Rio de Janeiro, visitar sua mãe, se hospeda no Clube da Aeronáutica, local onde a entrevista foi realizada?
É muito simples! A FAB o retirou de um país onde certamente seria morto e um seu oficial não permitiu que ele fosse jogado, sem identificação, numa vala clandestina de um cemitério qualquer de São Paulo ou de outro lugar. Se ele é grato por isso, está certíssimo! Como dizia o saudoso Cantinflas, “é preferível um covarde vivo a cem heróis mortos”! Depois dessa entrevista e de conhecer esses fatos, minha admiração por ele cresceu. Ele não cabe em si de tanta grandeza! Ah, tenho o áudio de sua canção “Desacordonar” que me foi presenteado por um oficial da reserva da Aeronáutica. O áudio não estava bom, mas aí apareceu um amigo cibernético que me mandou outro digno de ser ouvido! Fico a escutar os nove minutos da canção e às vezes me pego olhando esta fotografia acima, do Vandré pós 1973 e já no ocaso da vida, não sem algumas lágrimas nos olhos e no coração. Já dizia Fernando Pessoa tomando emprestada dos primeiros navegadores portugueses esta expressão: “Navegar é preciso. Viver, não é preciso”.
A prova de que sepultaram Vandré em vida se compreende com a indesculpável falha da Rede Globo permitindo que se destruísse o vídeo com as imagens do Maracanãzinho lotado em 1968 e Vandré cantando “Caminhando”, tudo para agradar aos milicos. Prestem atenção que na entrevista abaixo ele cobra isso do inquiridor global. As únicas imagens de Geraldo Vandré ao vivo estão aqui, quando ele canta “Aroeira” em companhia de um grupo de músicos bastante conhecido. A gravação é de 1967.
Agora assistam a entrevista completa com o que sobrou do grande artista Geraldo Vandré. Ela é deprimente em alguns momentos, porém bastante elucidativa em outros! Vejam que na abertura do programa, o locutor oficial disse que seria decifrado o enigma Geraldo Vandré. Não foi isso o que aconteceu. A entrevista confundiu mais do que esclareceu. Cotejada com outros fatos omissos, ela ganha uma importância fundamental para que se assimile por completo a figura humana do Geraldo Vandré que chegou aos dias atuais. Concordo com ele em certos pontos: o Brasil de hoje não tem mais cultura para curtir as músicas de Vandré.
Geraldo Pedrosa de Araújo Dias nasceu em João Pessoa/PB em 12 de Setembro de 1935 e já demonstrava forte inclinação musical quando fez o curso ginasial num colégio interno em Nazaré da Mata/PE. O nome Vandré é a abreviatura de Vandregésilo, que é como se chama seu pai. O escritor e crítico musical Ricardo Anísio, seu conterrâneo, é quem cuidará da sua biografia. Acho que terá um trabalho imenso para mostrar ao Brasil que o verdadeiro compositor não é o que deu esta entrevista para Geneton Moraes Neto, famoso jornalista pernambucano, porque o ente político Vandré foi brutalmente assassinado em 1973.
Geraldo Vandré se transformou num morto-vivo aos 38 anos de idade. Está atualmente com 77 anos. Como se vê, tem mais anos como morto insepulto do que vivo.
O que teria ocorrido para que esse paraibano de João Pessoa abandonasse uma carreira artística tão promissora que em pouco tempo fez dele o maior compositor brasileiro? A resposta é muito simples e está nestes versos:
“... Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”
Em 1968, estes versos foram cantados pelo próprio Vandré se acompanhando ao violão para delírio de 30 mil pessoas que lotavam o Maracanãzinho que vaiavam estrepitosamente a música “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque. Vandré pegou o microfone e falou: “A vida não se resume a festivais”.
Gravada logo em seguida, surpreendentemente, por Luiz Gonzaga, a música seria logo proibida depois do advento do AI 5, afinal nenhuma ditadura militar toleraria versos tão provocantes e verdadeiros. Mas essa era a característica marcante das canções de Vandré: ele era um doutrinador, um domador de consciência das massas, e se esse papel já preocupa os regimes democráticos, imagine o estrago que causou na ditadura militar brasileira e depois na chilena! Nenhum outro compositor brasileiro de antanho teve essa incrível capacidade que ele demonstrou.
Sim, Geraldo Vandré foi para o Chile. Iria fazer um show em Brasília em dezembro de 1968 acompanhado por um grupo de músicos no qual estava incluído o pernambucano Geraldo Azevedo, quando foi avisado pela então mulher de Caetano, Dedé Veloso, de que os milicos estavam à sua cata para prendê-lo e quem sabe fazer o que dele?
Disse Vandré a Geneton que voltou para São Paulo guiando seu carro. As coisas não aconteceram bem assim. Ele se refugiou na casa da viúva do escritor Guimarães Rosa e de lá só saiu para embarcar para o Chile devidamente “preparado” para que não fosse reconhecido pela Polícia Federal. Conseguiu fugir do país com um passaporte falso arrumado por amigos. Era fevereiro de 1969.
No final daquele mesmo ano ele gravou um compacto no Chile com duas músicas: 1) Caminhando (na versão em espanhol) e 2) Desacordonar. Esta última canção eu considero a maior que ele fez. Ela trazia mais conscientização de massas e mais problemas para ele com os militares, desta vez os chilenos. Os serviços de inteligência das Forças Armadas de lá passaram a monitorar seus passos.
Em novembro de 1970, Salvador Allende tomou posse na presidência do Chile para desespero de Richard Nixon, da CIA e do regime ditatorial brasileiro.
Geraldo Vandré partiu para a Europa nesse mesmo ano e na França gravou um disco primoroso que somente seria lançado no Brasil em 1973: “Das Terras de Benvirá”. Juntou-se a músicos brasileiros e fez uma turnê por diversos países. Foi por esse tempo que conheceu o músico Marcelo Melo que estudava na Bélgica e em 1971 regressaria ao Brasil fundando com outros músicos o Quinteto Violado. Foi também desse período a sua prisão com um grupo de amigos na França porque faziam uso do haxixe. Ele que era casado com uma chilena, passou a viver um drama pessoal porque a mulher o abandonou e voltou ao seu país. Geraldo, querendo salvar seu casamento, voltou ao Chile em 1972 e nesse mesmo ano participou de um festival de música no Peru. Antes desse disco lançado na França, o Brasil já contabilizava quatro LP seus: 1) Geraldo Vandré – 1964; 2) Hora de Lutar – 1965; 3) 5 Anos de Canção – 1966; 4) Canto Geral – 1968.
No meado de 1973, o Chile era uma agitação sem fim. A CIA financiava os empresários chilenos para que estes fizessem greve paralisando a atividade de comércio, indústria e transporte com o fim de desestabilizar o governo Allende e os militares já se organizavam para dar o bote final pela tomada do poder. No começo de julho de 1973, os militares chilenos puseram a mão em Vandré e comunicaram a seus colegas brasileiros. Não o queriam lá. Um avião da FAB foi destacado para ir buscar o ilustre “fisgado” no Chile.
Foi nesse vôo do Chile para o Brasil que Vandré conheceu o seu santo salvador, ou o seu anjo da guarda. O militar, um coronel aviador da FAB era seu admirador e sabia o que o aguardava no Brasil. Temia até pela sua vida. Com o desembarque em terras brasileiras, o Exército deu sumiço a Vandré por 58 dias, mas o anjo da guarda sempre descobria onde ele estava e não permitia que ele morresse nas sessões de tortura. Apesar dessa intervenção em seu favor, notícias de bastidores militares dão conta de que Vandré sofreu lavagem cerebral, internação em hospital psiquiátrico e até a perda dos testículos! Tudo isso para aprender a não fazer mais canção dizendo que “militar vive sem razão”. Quando ele morrer de fato e de direito, seu cadáver deverá ser examinado para esclarecer sua comentada emasculação perante a história política deste país.
Com o compositor já transformado no trapo que os militares queriam, “apareceu” no aeroporto de Brasília justamente em 11/09/1973, data em que Pinochet deu o golpe fatal, matou Allende e ocupou o poder. Vandré surgiu como se tivesse desembarcado do Chile naquele momento! Como se isso fosse possível naquele fatídico dia 11 de setembro chileno quando ninguém entrava ou saía do país. Por incrível que pareça, estava de plantão no aeroporto um repórter da Rede Globo à espera dele que o entrevistou e ouviu sua “confissão” de que dali em diante somente faria “canções de amor”. Gilberto Gil, em 1972, foi obrigado a dizer coisa parecida! Pronto, a partir dessa entrevista estava morto o grande artista Geraldo Vandré.
Vandré tornou-se até agressivo com seus fãs. Morando no centro de São Paulo, certa vez foi reconhecido por um deles que gritou: Vandré!!! Ele respondeu de modo áspero: “meu nome agora é Geraldo Pedrosa, porra”!
Elba Ramalho, como amiga dele que era, teve que aturar as suas esquisitices por um bom tempo, andando com ele pra cima e pra baixo, até que lhe pediu autorização para gravar “Canção da Despedida” e ele a negou. Inconformada ela ligou para o outro parceiro de Vandré na música, Geraldo Azevedo, que procurou falar com ele. Pra vocês terem uma idéia, Vandré permitiu que a música fosse gravada somente com o nome de Geraldo Azevedo como autor porque ele não queria que o nome dele aparecesse mais em discos gravados no Brasil. Aconteceu em 1983, por ocasião da gravação do LP “Coração Brasileiro”. A música foi composta em dezembro de 1968 quando Vandré pressentiu que não mais poderia ficar no Brasil. Isso demonstra para qualquer ser vivo como Geraldo Pedrosa matou Geraldo Vandré ou o obrigaram a fazer isso. Elba Ramalho, na época, o chamou de louco. Fácil não é, Elba? Você passou por tudo aquilo? Geraldo Azevedo não disse nada porque ele foi preso duas vezes e severamente torturado, chegando a presenciar a morte de um “subversivo” nas mãos dos torturadores.
Voltando ao tema autorização de Vandré, o mesmo aconteceu com Marcelo Melo em 1997 quando o Quinteto Violado lançou um CD em sua homenagem e também com Zé Ramalho, já neste século XXI, que gravou “Fica Mal Com Deus” fazendo um dueto póstumo com Luiz Gonzaga. Vandré não autorizou absolutamente nada!
A conclusão lógica de todo esse mistério é que Vandré foi forçado a essa situação dolorida: ou parava com a sua arte de cantor/compositor ou morria. Ele não teve escolha! Ah, mas antes disso ele fez uma canção para a FAB que se chama “Fabiana”, que foi apresentada aos militares da Aeronáutica em 1976. Não me perguntem por que ele não fez música pro Exército também. Agora o que deveria ser perguntado era o porquê de Geraldo Vandré continuar mudo depois de 1985, quando os milicos deixaram o poder. Ah, ele não tem tempo. Ocupa-se em fazer músicas em espanhol e também compor sinfonias!
Criticar Geraldo Vandré por sua opção para continuar vivo é muito cômodo. Difícil é passar por tudo o que ele sofreu e demonstrar ainda alguma lucidez numa entrevista. Pois ele a mostrou! Se bem que é facilmente perceptível que em alguns momentos ele faz confusão mental, mas em certos trechos da entrevista ele é impressionante! Fiquei besta quando publiquei esta entrevista dele com o Geneton em 2010, no final daquele ano, pois um compositor que tenho em alta conta ocupou a postagem para dizer que Vandré é um fantoche. Que ele nunca existiu para a música brasileira. É imensamente triste constatar que o Brasil perdeu o respeito por Geraldo Vandré!
Entenderam agora o motivo pelo qual ele concedeu a entrevista vestido com uma camisa branca com o distintivo da FAB, compôs uma canção chamada “Fabiana” em sua homenagem e quando vai ao Rio de Janeiro, visitar sua mãe, se hospeda no Clube da Aeronáutica, local onde a entrevista foi realizada?
É muito simples! A FAB o retirou de um país onde certamente seria morto e um seu oficial não permitiu que ele fosse jogado, sem identificação, numa vala clandestina de um cemitério qualquer de São Paulo ou de outro lugar. Se ele é grato por isso, está certíssimo! Como dizia o saudoso Cantinflas, “é preferível um covarde vivo a cem heróis mortos”! Depois dessa entrevista e de conhecer esses fatos, minha admiração por ele cresceu. Ele não cabe em si de tanta grandeza! Ah, tenho o áudio de sua canção “Desacordonar” que me foi presenteado por um oficial da reserva da Aeronáutica. O áudio não estava bom, mas aí apareceu um amigo cibernético que me mandou outro digno de ser ouvido! Fico a escutar os nove minutos da canção e às vezes me pego olhando esta fotografia acima, do Vandré pós 1973 e já no ocaso da vida, não sem algumas lágrimas nos olhos e no coração. Já dizia Fernando Pessoa tomando emprestada dos primeiros navegadores portugueses esta expressão: “Navegar é preciso. Viver, não é preciso”.
A prova de que sepultaram Vandré em vida se compreende com a indesculpável falha da Rede Globo permitindo que se destruísse o vídeo com as imagens do Maracanãzinho lotado em 1968 e Vandré cantando “Caminhando”, tudo para agradar aos milicos. Prestem atenção que na entrevista abaixo ele cobra isso do inquiridor global. As únicas imagens de Geraldo Vandré ao vivo estão aqui, quando ele canta “Aroeira” em companhia de um grupo de músicos bastante conhecido. A gravação é de 1967.
Agora assistam a entrevista completa com o que sobrou do grande artista Geraldo Vandré. Ela é deprimente em alguns momentos, porém bastante elucidativa em outros! Vejam que na abertura do programa, o locutor oficial disse que seria decifrado o enigma Geraldo Vandré. Não foi isso o que aconteceu. A entrevista confundiu mais do que esclareceu. Cotejada com outros fatos omissos, ela ganha uma importância fundamental para que se assimile por completo a figura humana do Geraldo Vandré que chegou aos dias atuais. Concordo com ele em certos pontos: o Brasil de hoje não tem mais cultura para curtir as músicas de Vandré.
Geraldo Pedrosa de Araújo Dias nasceu em João Pessoa/PB em 12 de Setembro de 1935 e já demonstrava forte inclinação musical quando fez o curso ginasial num colégio interno em Nazaré da Mata/PE. O nome Vandré é a abreviatura de Vandregésilo, que é como se chama seu pai. O escritor e crítico musical Ricardo Anísio, seu conterrâneo, é quem cuidará da sua biografia. Acho que terá um trabalho imenso para mostrar ao Brasil que o verdadeiro compositor não é o que deu esta entrevista para Geneton Moraes Neto, famoso jornalista pernambucano, porque o ente político Vandré foi brutalmente assassinado em 1973.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Detalhes sobre o dia do exílio de Geraldo Vandré e a ajuda da namorada
boa matéria disponível no site
http://oplantador.blogspot.com.br/2009/01/geraldo-vandr-e-alegrete.html
Geraldo Vandré e Alegrete
Como comentei que gosto da música Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, o Grillo me mostrou uma reportagem que contava a passagem de Vandré por Alegrete, este fato é desconhecido por muita gente.
Transcrevo aqui uma parte da reportagem na “Coleções caros amigos – a ditadura militar no Brasil o governo Geisel – extinta a luta armada”, infelizmente não tenho mais dados sobre a postagem, nome da editora, ano... pois só tenho um xérox da reportagem.
Márcio Mombach
A jornalista Ana Cavalcanti namorava Vandré quando o AI-5 e militares da linha-dura estavam à caça dele. Ana e o paiarriscaram a pele para pô-lo a salvo.
“Como Geraldo Vandré fugiu da ditadura
ANA CAVALCANTI – ESPECIAL PARA ESTA COLEÇÃO
Quando tocou a campainha da minha casa, em vila Mariana, Geraldo Vandré era a ultima pessoa que esperava encontrar no portão. Depois de ovacionado no III Festival Internacional da Canção, no Rio, em 1968, ele decidiu fazer um show no TeatroOpinião, Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, ou Caminhando. Acompanhado de músicos talentosos, Naná Vasconcelos entre eles, o espetáculo tinha começado havia poucas semanas e eu não imaginava vê-lo tão cedo em São Paulo.
Aquela não era uma visita como as outras. Geraldo estava angustiado, falava muito depressa. O AI-5 havia sido decretado. Ele achava a situação extremamente grave e não queria ficar na apartamento dele, na alameda Barros...
Começaram os preparativos para tirar Vandré do país. O plano traçado: ele atravessaria a fronteira do Brasil com o Uruguai, de lá , ganharia o mundo. Primeiro chegaria a ALEGRETE, cidade gaucha a uma centena de quilômetros tanto do Uruguai quanto da Argentina. Uma família amiga o ajudaria a atravessar a fronteira.
Lembro que Geraldo não tinha passaporte. Ou melhor, tinha. Mas que , eu o guardei numa bolsa junto com um vidro de perfume. O perfume vazou e o passaporte ficou inutilizado.
Geraldo escolheu papai para levá-lo até ALEGRETE. Tínhamos uma Kombi. Contratamos um motorista e pegamos a estrada de madrugada. Meu pai e o motorista foram se revezando na direção. Paramos apenas para almoçar em uma churrascaria de beira de estrada. No ambiente simples e descontraído, com musica tocando alto. De repente ouvimos “Caminhando”. O susto foi enorme. Ficamos paralisados, achando que puseram a musica porque haviam reconhecido Geraldo, mas não. Era apenas um sucesso tocando.
Depois de viajar bem mais de 1.000 quilômetros, entregamos Geraldo à família em ALEGRETE. Conversamos alguns minutos e eu, papai e o motorista pegamos a estrada de volta. A despedida pra mim foi sofrida, chorei, mas Geraldo estava bem, dentro das circunstancias. Isso aconteceu em 1969.
Só fui vê-lo novamente em 1973, quando voltou ao Brasil. Encontrei um Geraldo bem diferente daquele homem de quem me despedi em ALEGRETE. Não saberia explicar o que aconteceu com a cabeça dele, nem quero tentar. O que faço questão de dizer é que Geraldo nunca foi preso nem torturado, como muita gente pensa e muitos jornais, livros e revistas, erroneamente, publicaram.
Hoje, Geraldo vive em um apartamento no centro de São Paulo, sozinho, tendo por companhia centenas de jornais de décadas passadas, empilhados nas várias mesas da sala. Viaja de vez em quando. Há pouco, passou uma temporada na Paraíba, onde nasceu. Não grava mais, não se apresenta na TV. Mas continua poeta e compondo. Isso a ditadura não consegui mudar.”
Transcrevo aqui uma parte da reportagem na “Coleções caros amigos – a ditadura militar no Brasil o governo Geisel – extinta a luta armada”, infelizmente não tenho mais dados sobre a postagem, nome da editora, ano... pois só tenho um xérox da reportagem.
Márcio Mombach
“Como Geraldo Vandré fugiu da ditadura
ANA CAVALCANTI – ESPECIAL PARA ESTA COLEÇÃO
Aquela não era uma visita como as outras. Geraldo estava angustiado, falava muito depressa. O AI-5 havia sido decretado. Ele achava a situação extremamente grave e não queria ficar na apartamento dele, na alameda Barros...
Lembro que Geraldo não tinha passaporte. Ou melhor, tinha. Mas que , eu o guardei numa bolsa junto com um vidro de perfume. O perfume vazou e o passaporte ficou inutilizado.
Geraldo escolheu papai para levá-lo até ALEGRETE. Tínhamos uma Kombi. Contratamos um motorista e pegamos a estrada de madrugada. Meu pai e o motorista foram se revezando na direção. Paramos apenas para almoçar em uma churrascaria de beira de estrada. No ambiente simples e descontraído, com musica tocando alto. De repente ouvimos “Caminhando”. O susto foi enorme. Ficamos paralisados, achando que puseram a musica porque haviam reconhecido Geraldo, mas não. Era apenas um sucesso tocando.
Depois de viajar bem mais de 1.000 quilômetros, entregamos Geraldo à família em ALEGRETE. Conversamos alguns minutos e eu, papai e o motorista pegamos a estrada de volta. A despedida pra mim foi sofrida, chorei, mas Geraldo estava bem, dentro das circunstancias. Isso aconteceu em 1969.
Hoje, Geraldo vive em um apartamento no centro de São Paulo, sozinho, tendo por companhia centenas de jornais de décadas passadas, empilhados nas várias mesas da sala. Viaja de vez em quando. Há pouco, passou uma temporada na Paraíba, onde nasceu. Não grava mais, não se apresenta na TV. Mas continua poeta e compondo. Isso a ditadura não consegui mudar.”
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Entrevista com Geraldo Vandré pela Cliquemusic
excelente entrevista da cliquemusic disponível no site:http://cliquemusic.uol.com.br/materias/ver/geraldo-vandre-rompe-silencio
Em entrevista exclusiva a CliqueMusic, o recluso autor de Disparada fala sobre seus projetos, entre eles o disco que pretende gravar em parceria com Zé Ramalho. Mas avisa: "Não tenho pressa. Vivo em outro mundo"
Tom Cardoso
28/07/2000
Numa entrevista recente a CliqueMusic, Zé Ramalho deu a pista: "Olha, estive com o Geraldo Vandré há pouco tempo. Ele está ótimo, me mostrou várias canções inéditas maravilhosas e quer gravar um disco em parceria comigo". Depois da insistência do repórter, Zé concordou em dar os telefones de contato do autor deDisparada, que amarga um auto-exílio de mais de 30 anos. "Mas vê se não liga muito, ele costuma se irritar fácil com as pessoas", alertou o compositor.
De nada adiantou o aviso de Zé Ramalho. Foram mais de 40 ligações ao celular e à casa de Geraldo Vandré. Monossilábico, o músico paraibano quase sempre repetia a mesma frase: "Vamos nos encontrar, me liga amanhã. Tá frio aí no Rio?". E nada de encontro. Depois de dois meses conversando sobre o clima do Rio de Janeiro e outras amenidades, Vandré resolveu, enfim, marcar uma entrevista com a reportagem de CliqueMusic.
O cantor escolheu um restaurante árabe localizado no centro de São Paulo, a poucos metros do edifício onde mora. Chegou pontualmente no horário marcado. Vestindo um blusão preto e um boné de aviador, pediu cerveja quente e uma coalhada e reclamou da fria noite paulistana (parece ter obsessão por temperaturas). O fato de ter pedido cerveja quente já reforçaria a tese de que Vandré estivesse, de fato, louco. Vítima da tortura dos militares? Vítima do cruel ostracismo?
Mas não. Geraldo Vandré não pirou. Calmo, conversou sobre tudo. Deu opiniões curtas, mas inteligentes, sobre os mais variados assuntos. Mora sozinho há mais de três décadas. Não tem filhos e são poucos os amigos. No entanto, Vandré diz levar uma vida super ocupada para um senhor de 65 anos de idade. "Sou advogado (formou-se em direito no fim dos anos 50, no Rio de Janeiro), o único da minha região. Advogado, porém inútil", brinca.
Durante a entrevista, Vandré conversou sobre os seus projetos. Do disco que pretende gravar no Uruguai e da esperada parceria com Zé Ramalho. "Só depende dele". Afirmou não ter gostado do álbum que o Quinteto Violado gravou em sua homenagem em 1997,Quinteto Canta Vandré ("É um disco equivocado", diz) e confessou desconhecer o que a MPB tem produzido. "Só ouço música clássica".
O músico revelou sua paixão por carros e principalmente por aviões, que o levou a escrever uma canção em homenagem à FAB (Força Aérea Brasileira), Fabiana, no fim da década de 80, rompendo um silêncio de várias décadas sem compor. Sobre a atual e controvertida lua-de-mel com os militares, que em 1968, em pleno AI-5, ficaram furiosos e censuraram Caminhando (Pra Não Dizer que Não Falei de Flores), sua canção mais emblemática, Vandré não conseguiu dar uma explicação muito convincente. "Caminhando não era uma canção política. Era um aviso aos militares: ‘Olha gente, desse jeito não dá mais’. Eles (militares) nunca tocaram um dedo em mim".
CliqueMusic – O sr. vive recluso há muitos anos. Não dá entrevistas, não faz shows e não grava discos. Como é a sua rotina de vida? Vive do que hoje em dia?
Geraldo Vandré – Sou advogado, o único da minha região. Advogado, porém inútil (risos). Tô sempre muito ocupado, muito mais do que muita gente da minha idade. Quando estou em casa, com o tempo livre, componho, mas não tenho pressa para gravar discos.
CliqueMusic – Zé Ramalho, seu conterrâneo e amigo, disse que o sr. concordou em gravar um disco com ele. Quando vão entrar em estúdio?
Geraldo Vandré – A gente combinou sim. Mas ele não me ligou mais. Deve estar ocupado com o novo show, que é muito bom. Fui assistir outro dia, gostei da regravação de Caminhando.
CliqueMusic – O mesmo Zé Ramalho também confirmou que o sr. tem canções inéditas belíssimas guardadas. Por que tanto tempo sem gravar um disco?
Geraldo Vandré – Por que vou atender as exigências do mercado de gravar um disco por ano? A maioria das minhas canções eu compus em espanhol. Pretendo primeiro lançar um disco no Uruguai. Estou indo para lá estudar um pouco de música.
CliqueMusic – O Quinteto Violado gravou em 1997 um disco só de canções de sua autoria. Chegou a ouvi-lo?
Geraldo Vandré – Ouvi. Tem uma série de coisas equivocadas neste disco. As pessoas fazem tudo com muito pressa.
CliqueMusic – O sr. ficou marcado como um compositor de protesto. Alguma dessas canções novas têm essa característica?
Geraldo Vandré – Nunca fui um compositor de protesto. Sou um músico de formação erudita. Ouço Villa-Lobos, Wagner...
CliqueMusic – Mas muitas das suas canções são sim de protesto, Caminhando, Canção da Despedida, e estão longe de ter um perfil erudito.
Geraldo Vandré – Não quero falar do passado. Ouça essa minha canção, que eu acabei de compor, ainda não tem título (começa a cantarolar um tango em portunhol): "Hoje cantor de mi tango/ Um tango do meu viver/ La Pampa, larga e serena/ Nela, vou renascer/ E há o outro lado, Argentina/ Que parte de mi querer".
CliqueMusic –O sr. pode mostrar alguma canção inédita em português?
Geraldo Vandré – Eu fiz essa música para a FAB (retira da bolsa um cartão com a letra de Fabiana, com um brasão da Força Aérea desenhado no verso).
CliqueMusic – Não é estranho alguém que protestou contra a ditadura militar hoje compor músicas em homenagem à Força Aérea?
Geraldo Vandré – Vocês não entendem, nunca entenderam (irritado, bate com força a colher com coalhada no prato). A minha relação com os militares não foi política e nunca vai ser.Caminhando era um aviso: "Olha gente, desse jeito não dá mais".
CliqueMusic – Muita gente tem convicção de que o sr. foi torturado na época do AI-5, por causa dos polêmicos versos de Caminhando ("Há soldados armados, amados ou não/ Quase todos perdidos de armas na mão/ Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição/ De morrer pela pátria e viver sem razão ).
Geraldo Vandré – Nunca fui preso. Eles (militares) nunca encostaram um dedo em mim. Aproximei-me da FAB porque voar sempre foi uma paixão de criança. Veja o início da letra de Fabiana, diz assim: "Desde os tempos distantes de criança/ Numa força, sem par, do pensamento..." Sou fascinado pela mecânica dos aviões e dos automóveis desde criança. Tenho dois carros em casa, um Fiat Palio e um Fusca. Hoje prefiro mexer num motor de carro do que compor uma música.
CliqueMusic – O sr. esteve visitando o Wilson Simonal no hospital um pouco antes de sua morte (em junho deste ano). Não te incomodou o fato dele carregar por muito tempo a fama de delator na época da ditadura?
Geraldo Vandré – Isso foi uma grande injustiça. Não fizeram essa acusação porque ele era preto e rico. Senão, tinham feito o mesmo com o Jair (Rodrigues). Era porque ele era um cara petulante, tinha aquele jeitão, mas nunca dedurou ninguém. Tenho certeza disso.
CliqueMusic – Se alguns dos seus antigos parceiros o convidassem para compor de novo, o sr. aceitaria?
Geraldo Vandré – Acho que sim. Estive assistindo o show do Baden (Powell) recentemente. Um grande show, um grande artista.
CliqueMusic – O sr. soube que ele se recusa a cantar os seus afro-sambas (em parceria com Vinícius de Moraes) depois que virou evangélico?
Geraldo Vandré – É sério? Que grande maluquice (risos).
CliqueMusic – O Caetano Veloso contou em seu livro,Verdade Tropical, que o sr. brigou com ele e com a Gal Gosta por causa da música Baby. O que acha do movimento tropicalista?
Geraldo Vandré – Achava Baby uma m. e hoje acho mais m. ainda (risos). O Rogério Duprat (maestro e arranjador da Tropicália) deve ter ficado surdo de tanto ouvir a barulheira dos tropicalistas.
CliqueMusic – O sr. ouve música? Vê televisão?
Geraldo Vandré – Ouço só rádio, a Cultura AM, que toca música clássica. Tenho um aparelho de TV branco e preto em casa, mas raramente ligo.
CliqueMusic – Já ouviu Chico César?
Geraldo Vandré – Nunca ouvi falar. Da onde ele é?
CliqueMusic – Da sua terra, a Paraíba.
Geraldo Vandré – Não sei quem é. Vivo em outro mundo.
De nada adiantou o aviso de Zé Ramalho. Foram mais de 40 ligações ao celular e à casa de Geraldo Vandré. Monossilábico, o músico paraibano quase sempre repetia a mesma frase: "Vamos nos encontrar, me liga amanhã. Tá frio aí no Rio?". E nada de encontro. Depois de dois meses conversando sobre o clima do Rio de Janeiro e outras amenidades, Vandré resolveu, enfim, marcar uma entrevista com a reportagem de CliqueMusic.
O cantor escolheu um restaurante árabe localizado no centro de São Paulo, a poucos metros do edifício onde mora. Chegou pontualmente no horário marcado. Vestindo um blusão preto e um boné de aviador, pediu cerveja quente e uma coalhada e reclamou da fria noite paulistana (parece ter obsessão por temperaturas). O fato de ter pedido cerveja quente já reforçaria a tese de que Vandré estivesse, de fato, louco. Vítima da tortura dos militares? Vítima do cruel ostracismo?
Mas não. Geraldo Vandré não pirou. Calmo, conversou sobre tudo. Deu opiniões curtas, mas inteligentes, sobre os mais variados assuntos. Mora sozinho há mais de três décadas. Não tem filhos e são poucos os amigos. No entanto, Vandré diz levar uma vida super ocupada para um senhor de 65 anos de idade. "Sou advogado (formou-se em direito no fim dos anos 50, no Rio de Janeiro), o único da minha região. Advogado, porém inútil", brinca.
Durante a entrevista, Vandré conversou sobre os seus projetos. Do disco que pretende gravar no Uruguai e da esperada parceria com Zé Ramalho. "Só depende dele". Afirmou não ter gostado do álbum que o Quinteto Violado gravou em sua homenagem em 1997,Quinteto Canta Vandré ("É um disco equivocado", diz) e confessou desconhecer o que a MPB tem produzido. "Só ouço música clássica".
O músico revelou sua paixão por carros e principalmente por aviões, que o levou a escrever uma canção em homenagem à FAB (Força Aérea Brasileira), Fabiana, no fim da década de 80, rompendo um silêncio de várias décadas sem compor. Sobre a atual e controvertida lua-de-mel com os militares, que em 1968, em pleno AI-5, ficaram furiosos e censuraram Caminhando (Pra Não Dizer que Não Falei de Flores), sua canção mais emblemática, Vandré não conseguiu dar uma explicação muito convincente. "Caminhando não era uma canção política. Era um aviso aos militares: ‘Olha gente, desse jeito não dá mais’. Eles (militares) nunca tocaram um dedo em mim".
CliqueMusic – O sr. vive recluso há muitos anos. Não dá entrevistas, não faz shows e não grava discos. Como é a sua rotina de vida? Vive do que hoje em dia?
Geraldo Vandré – Sou advogado, o único da minha região. Advogado, porém inútil (risos). Tô sempre muito ocupado, muito mais do que muita gente da minha idade. Quando estou em casa, com o tempo livre, componho, mas não tenho pressa para gravar discos.
CliqueMusic – Zé Ramalho, seu conterrâneo e amigo, disse que o sr. concordou em gravar um disco com ele. Quando vão entrar em estúdio?
Geraldo Vandré – A gente combinou sim. Mas ele não me ligou mais. Deve estar ocupado com o novo show, que é muito bom. Fui assistir outro dia, gostei da regravação de Caminhando.
CliqueMusic – O mesmo Zé Ramalho também confirmou que o sr. tem canções inéditas belíssimas guardadas. Por que tanto tempo sem gravar um disco?
Geraldo Vandré – Por que vou atender as exigências do mercado de gravar um disco por ano? A maioria das minhas canções eu compus em espanhol. Pretendo primeiro lançar um disco no Uruguai. Estou indo para lá estudar um pouco de música.
CliqueMusic – O Quinteto Violado gravou em 1997 um disco só de canções de sua autoria. Chegou a ouvi-lo?
Geraldo Vandré – Ouvi. Tem uma série de coisas equivocadas neste disco. As pessoas fazem tudo com muito pressa.
CliqueMusic – O sr. ficou marcado como um compositor de protesto. Alguma dessas canções novas têm essa característica?
Geraldo Vandré – Nunca fui um compositor de protesto. Sou um músico de formação erudita. Ouço Villa-Lobos, Wagner...
CliqueMusic – Mas muitas das suas canções são sim de protesto, Caminhando, Canção da Despedida, e estão longe de ter um perfil erudito.
Geraldo Vandré – Não quero falar do passado. Ouça essa minha canção, que eu acabei de compor, ainda não tem título (começa a cantarolar um tango em portunhol): "Hoje cantor de mi tango/ Um tango do meu viver/ La Pampa, larga e serena/ Nela, vou renascer/ E há o outro lado, Argentina/ Que parte de mi querer".
CliqueMusic –O sr. pode mostrar alguma canção inédita em português?
Geraldo Vandré – Eu fiz essa música para a FAB (retira da bolsa um cartão com a letra de Fabiana, com um brasão da Força Aérea desenhado no verso).
CliqueMusic – Não é estranho alguém que protestou contra a ditadura militar hoje compor músicas em homenagem à Força Aérea?
Geraldo Vandré – Vocês não entendem, nunca entenderam (irritado, bate com força a colher com coalhada no prato). A minha relação com os militares não foi política e nunca vai ser.Caminhando era um aviso: "Olha gente, desse jeito não dá mais".
CliqueMusic – Muita gente tem convicção de que o sr. foi torturado na época do AI-5, por causa dos polêmicos versos de Caminhando ("Há soldados armados, amados ou não/ Quase todos perdidos de armas na mão/ Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição/ De morrer pela pátria e viver sem razão ).
Geraldo Vandré – Nunca fui preso. Eles (militares) nunca encostaram um dedo em mim. Aproximei-me da FAB porque voar sempre foi uma paixão de criança. Veja o início da letra de Fabiana, diz assim: "Desde os tempos distantes de criança/ Numa força, sem par, do pensamento..." Sou fascinado pela mecânica dos aviões e dos automóveis desde criança. Tenho dois carros em casa, um Fiat Palio e um Fusca. Hoje prefiro mexer num motor de carro do que compor uma música.
CliqueMusic – O sr. esteve visitando o Wilson Simonal no hospital um pouco antes de sua morte (em junho deste ano). Não te incomodou o fato dele carregar por muito tempo a fama de delator na época da ditadura?
Geraldo Vandré – Isso foi uma grande injustiça. Não fizeram essa acusação porque ele era preto e rico. Senão, tinham feito o mesmo com o Jair (Rodrigues). Era porque ele era um cara petulante, tinha aquele jeitão, mas nunca dedurou ninguém. Tenho certeza disso.
CliqueMusic – Se alguns dos seus antigos parceiros o convidassem para compor de novo, o sr. aceitaria?
Geraldo Vandré – Acho que sim. Estive assistindo o show do Baden (Powell) recentemente. Um grande show, um grande artista.
CliqueMusic – O sr. soube que ele se recusa a cantar os seus afro-sambas (em parceria com Vinícius de Moraes) depois que virou evangélico?
Geraldo Vandré – É sério? Que grande maluquice (risos).
CliqueMusic – O Caetano Veloso contou em seu livro,Verdade Tropical, que o sr. brigou com ele e com a Gal Gosta por causa da música Baby. O que acha do movimento tropicalista?
Geraldo Vandré – Achava Baby uma m. e hoje acho mais m. ainda (risos). O Rogério Duprat (maestro e arranjador da Tropicália) deve ter ficado surdo de tanto ouvir a barulheira dos tropicalistas.
CliqueMusic – O sr. ouve música? Vê televisão?
Geraldo Vandré – Ouço só rádio, a Cultura AM, que toca música clássica. Tenho um aparelho de TV branco e preto em casa, mas raramente ligo.
CliqueMusic – Já ouviu Chico César?
Geraldo Vandré – Nunca ouvi falar. Da onde ele é?
CliqueMusic – Da sua terra, a Paraíba.
Geraldo Vandré – Não sei quem é. Vivo em outro mundo.
terça-feira, 6 de maio de 2014
segunda-feira, 5 de maio de 2014
domingo, 4 de maio de 2014
sábado, 3 de maio de 2014
CURIOSIDADES DA VIDA DE VANDRÉ ONTEM E HOJE
iNTERESSANTE REPORTAGEM DA REVISTA TRIP SOBRE GERALDO VANDRÉ. NO SITE .... http://revistatrip.uol.com.br/revista/191/reportagens/nao-e-o-vandre.html
NÃO É O VANDRÉ
Geraldo Vandré é o maior enigma da MPB. Hoje renega o passado e até o sobrenome
10.08.2010 | Texto: Nina Lemos | Fotos: >Alberto de Abreu Sodré, acervo iconographia, Antônio Gaudério
Alberto de Abreu Sodré
Vandré canta "Pra não dizer que não falei das flores" no III Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho, em 1968
Um dos personagens mais importantes da história política e musical do país está bem perto de nós. Mais do que imaginamos. Geraldo Vandré, o autor de "Para não dizer que não falei de flores", o homem que compôs e cantou o que se tornou o hino de resistência à ditadura militar e nunca mais foi visto nos palcos, se esconde perto do Baixo Augusta. Ali mesmo onde muitos paulistanos tomam umas cervejas e (vez ou outra) até falam de política.
Todo mundo sabe cantar "caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais, braços dados ou não". Mas poucos sabem que o paraibano Vandré hoje, aos 74 anos, é um senhor isolado, que anda pela rua com os cabelos brancos e um boné da FAB (as Forças Aéreas Brasileiras). Ele provavelmente faz músicas, mas não as grava. Ele de vez em quando liga para os amigos, mas depois desaparece. Ele fala que vai dar entrevista, mas desiste. Geraldo Vandré é um mistério.
O homem que fez Tom Jobim tomar a maior vaia de sua vida (quando "Sabiá" ganhou de "Para não dizer que não falei das flores" no Festival Internacional da Canção de 1968) é cercado de mitos e de "provavelmentes". Difícil ter certeza sobre alguma coisa da vida que ele leva nos últimos trinta e poucos anos, desde que voltou de um exílio e se autoexilou da vida pública.
Mas uma coisa é certa. Ele é um dos cinco moradores de um prédio meio abandonado no centro de São Paulo, que tem um total de 39 apartamentos. Ele vive há 25 anos em um sala e dois quartos. Quem garante é Joaquim Felipe, 78, zelador do prédio há 28. "O Geraldo está viajando", ele diz. Sim, essa informação já havia sido passada à Trip pelo próprio autor de "Disparada" e outros clássicos da canção de protesto. Só que, quando a gente é jornalista, não pode confiar em Geraldo Vandré, que não gosta de dar entrevista e foge da imprensa como o diabo da cruz.
"Cuidado que ele vai te enrolar, vai marcar e desmarcar várias vezes", diz Tom Cardoso, um dos últimos jornalistas a conseguir entrevistar o cantor. Tom passou seis meses ligando para ele todos os dias para conseguir uma meia hora de papo.
Geraldo Vandré é um ermitão. Mas tem celular. E chegou a atender um dia.
- Sou da revista Trip e queria fazer uma reportagem com o senhor.
-Estou viajando. A senhora me acione daqui a dez dias.
Antônio Gaudério/ Folhapress
O compositor em 1992 vestido ao estilo militar
Ele estava mesmo viajando. Seus poucos amigos íntimos confirmaram. Geraldo estaria em Teresópolis, cuidando da mãe, que tem mais de 90 anos. "Ele é muito devotado e tem passado muito tempo cuidando dela, que está doente", diz Telé Cardim, jornalista e amiga de Vandré desde os anos 60, uma das poucas pessoas para quem ele telefona "de vez em quando".
Geraldo Vandré não recebe muitas visitas. Telé já esteve no apartamento. "Ele vive cercado de livros." E seu Felipe confirma o isolamento. "Já teve muito jornalista procurando por ele aqui. Hoje não vem mais ninguém, todo mundo desistiu. O tempo passa, as pessoas esquecem. E ele também não abria a porta", diz seu Felipe, rindo. "Ele é solitário, muito solitário, fechado, mas é gente boa, também, depois de ser exilado e ter levado uns esculachos fora do Brasil", continua seu Felipe. Sim, houve um tempo em que Geraldo Vandré conversava com seu Felipe sobre o passado. Hoje, anda cada dia mais calado. "Ele odeia política. Votar? Não vota não. Ele não gosta nem de ouvir falar nesse assunto."
Che e FAB
Segundo seu ex-empresário, José Guedes, que acompanha a trajetória de Vandré desde 1960, ele jamais foi ligado em política partidária. "Ele nunca se filiou a nada, nem falava tanto assim de política. Era muito identificado com o Che Guevara e esse ideal revolucionário. Tanto que, quando estava no exílio, gravou uma música chamada ‘Che'."
Mas Vandré hoje renega esse passado. O compositor e cantor Jair Rodrigues, intérprete de "Disparada" e um dos poucos artistas a manter contato com Geraldo, percebeu isso ainda nos anos 80, quando reencontrou Vandré na porta do apartamento onde ele mora até hoje. "Eu cheguei todo animado e disse: ‘Vandré'. Aí ele me olhou e falou: ‘Eu sou o Geraldo Pedrosa, o Geraldo Vandré morreu em 1968'."
O que fez com que Vandré - sobrenome artístico que ele adotou em começo de carreira - morresse é uma coisa que nem os amigos entendem direito.
Certo é que a fase da vida em que ele fugiu do Brasil, voltou e reapareceu no centro de São Paulo é nebulosa. "São coisas que só o Geraldo sabe. E ele nunca vai contar", avisa José Guedes.
Mesmo assim, Guedes sabe de muita coisa. Ele acompanhava Vandré na saída do Maracanãzinho, no dia da lendária apresentação de "Pra não dizer que não falei das flores". "Na saída já tivemos um aviso, os militares mandaram um recado dizendo que era para a gente desarmar a nossa montaria e sumir." Geraldo passou um tempo em São Paulo. E, segundo Guedes, no Rio foi hóspede do escritor Guimarães Rosa. Depois, diz o ex-empresário, conseguiu fugir para o Uruguai, "escondido dentro de uma ambulância". "O AI5 tinha acabado de cair sobre as nossas cabeças, tínhamos planejado uma longa turnê, mas aí vimos que seria impossível fazer qualquer coisa."
"Ele odeia política. Votar? Não vota não. Ele não gosta nem de ouvir falar nesse assunto", diz o zelador do prédio do artista, seu felipe
O músico morou no Chile e depois na França. Voltou ao Brasil em 1973. E é aí que está um dos capítulos mais misteriosos de sua vida. "Foi quando ele fez aquela história com a Globo e depois foi morar no quartel da FAB", conta Guedes. Sim, a história de Geraldo Vandré, ou do advogado Geraldo Pedrosa, tem ares cinematográficos.
Ao chegar ao Brasil, ele fez uma aparição no Jornal Nacional que chocou a esquerda e os simpatizantes. Geraldo defendeu a ditadura militar e disse que nunca havia apanhado. "Ele foi convencido, essa parte é nebulosa mesmo e só ele sabe. Ele estava muito amargo quando voltou, em depressão mesmo. Acho que deve ter sido torturado no Chile", diz Telé.
Não parece coincidência Vandré escolher passar a virada do século no clube da Aeronáutica. José Guedes conta: "Quando ele voltou do exílio ficou um bom tempo morando no quartel, parece que ele tinha carro e um quarto lá e dormia e saía quando queria. Foi por isso que ele compôs "Fabiana", um hino para a FAB." Sim, a última canção conhecida de Geraldo Vandré é uma homenagem às Forças Aéreas Brasileiras.Aos poucos, ele restringiu seus contatos a um grupo restrito de amigos. Ano passado, Telé recebeu visitas de Geraldo na TV Record, onde trabalha, e convenceu Vandré a dar uma entrevista para o rádio. "Chegamos a assistir cenas de festivais e senti que ele ficou melancólico." No réveillon de 2000, Telé se surpreendeu com a presença de Vandré em seu almoço de Ano Novo. "Encontrei com ele por acaso e disse que estava indo para o Rio, onde almoçaria com a minha família no clube da Aeronáutica. Quando chego lá, o Vandré estava nos esperando, comemoramos, ele se divertiu."
A história fica ainda mais estranha. A última aparição de Vandré em público, registrada no YouTube, é de Geraldo assistindo a um show do sargento Lago, que canta principalmente músicas militares, em São Paulo. No vídeo, o sargento apresenta "Para não dizer que não falei de flores" e Geraldo é visto em um canto da plateia.
Acervo Iconographia
Théo de Barros, Heraldo do Monte, Airto Moreira e, no alto, Vandré, em 1966
Eles ficaram amigos na década de 80, quando Geraldo passou a frequentar o quartel onde o sargento servia para ouvir concertos da banda do exército. "Nos aproximamos por causa da música. Ele está bem, quando nos encontramos conversamos sobre vários assuntos. Somos amigos normais, por afinidade, não tem nada a ver com eu ser militar e ele ter sido um compositor que apareceu lutando contra a ditadura." De acordo com o sargento, Vandré compôs "Fabiana" por uma razão simples. "Ele gosta de aviões, sempre gostou."
Segundo amigos, essa relação é realmente estreita. "O Vandré leva uma vida boa. Ele entra em qualquer avião da FAB e viaja para onde quiser sem comprar passagem", diz Jair Rodrigues. O último encontro deles aconteceu no ano passado. Parecia promissor, mas, mais uma vez, Vandré sumiu misteriosamente. "Ele me ligou e disse que queria que eu gravasse um disco com as músicas novas dele, perguntou se eu aceitava, eu disse que sim, e ele disse que só aceitaria se a Simone cantasse junto. Falei que tudo bem, desde que ela aceitasse. Depois disso, ele nunca apareceu."
Povo e lombriga
"Acho que o Geraldo ficou muito magoado com tudo o que aconteceu, ao sentir que se sacrificou pela ditadura. Quando ele voltou do exílio, o procurei e disse: ‘Volte a compor, o povo te quer'. Ele me disse: ‘Que se dane o povo, o povo é uma lombriga'", diz Jair.
Seu Felipe, o zelador do prédio de Geraldo, acha que o fato de já ter visto o vizinho falando com as paredes se deve ao fato de ele ser poeta. "Um poeta que sofreu muito." E seus amigos concordam que o artista não ficou louco, um dos mitos que perseguem a sua imagem. "Se ele estivesse louco não estaria cuidando da mãe", diz Telé Cardim. "Ele vive do jeito dele, com a aposentadoria de quando trabalhava na Sunab. Vive de uma maneira muito simples, com pouco dinheiro. Ele cozinha, lava suas roupas e frequenta aqueles restaurantes populares perto do prédio dele, mas sabe cuidar de si e até faz exercícios em casa."
Se você vir um senhor com boné da FAB vagando perto do Baixo Augusta, sim, pode ser ele. Mas não o chame de Geraldo Vandré.
Márcia Foletto / Agência O Globo
Geraldo Vandré em 1999, no Hotel da Aeronáutica, no Rio
Análise técnica: coisas que Geraldo Vandré ensinou a Chico Buarque
Rivais nos festivais e amigos na ideologia: análise poética das canções com o contexto da época e da relação entre Vandré e Chico.
Análise muito interessante da canção de Vandré e sua relação com Chico Buarque no site MPBsapiens no link...http://mpbsapiens.com/pranao-vandre/
Análise muito interessante da canção de Vandré e sua relação com Chico Buarque no site MPBsapiens no link...http://mpbsapiens.com/pranao-vandre/
Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores (Geraldo Vandré) – Análise Poética.
Várias pessoas já estranharam o fato de, nas citações que fiz sobre essa música, só tê-la abordado pelas mensagens explícitas do texto associadas à época em que foi criada e cantada.
Acontece que não fiz isso antes porque o próprio Vandré cantou-a de formas diferentes ao longo dos anos. Não estou nem considerando aquela coisa feia da Simone, cantando a música sentada numa Mercedes Sport conversível no clip de lançamento, feito num programa dominical noturno de uma emissora de televisão brasileira de grande audiência.
- Então invadirei a casa adormecida.
Outro tanto de pessoas me pergunta até hoje por que, no festival de MPB da Record, ocorrido em 1966, o Chico Buarque cantava a música A Banda sempre após a a Nara Leão já tê-la cantado? Dois eram os motivos:
1- Nara não sabia cantar a música obedecendo a configuração poética. 2- Ao cantá-la pela segunda vez, e do jeito correto, a música era cantada duas vezes seguidas e a plateia decorava melhor a letra.
O primeiro motivo é o grande responsável pelo fato de tanto Chico quanto Vandré evitarem entregar as suas músicas para qualquer cantor cantá-las, preferindo eles mesmos as defenderem nos festivais de MPB.
Embora, em 1966, os dois tenham colocado as suas músicas nas vozes de Nara Leão e Jair Rodrigues, este cantando a música Disparada, do Vandré, nenhum deles, mesmo insatisfeitos com as perdas das estruturas poéticas das letras, pode se queixar, já que ambos ganharam aquele festival.
Além de bons poetas, Chico e Vandré eram amigos o bastante a darem palpites um na letra do outro, e nesse festival de 1966 o Chico certamente percebeu um truque poético do Vandré neste pensamento de Disparada:
Pre/pa/re-o/ seu/ co/ra/ção – 7 sílabas
Pras/ coi/sas/ que-eu/ vou/ con/tar – 7 sílabas
Eu/ ve/nho/ lá/ do/ ser/tão – 7 sílabas
E/ pos/so/ não/ lhe-a/gra/dar – 7 sílabas
A/pren/di/ a/ di/zer/ não – 7 sílabas
Ver/ a/ mor/te/ sem/ cho/rar – 7 sílabas
E-a/ mor/te-o/ des/ti/no/ tu/do – 7 sílabas
Es/ta/va/ fo/ra/ de/ lu/gar – 8 sílabas
E-eu/ vi/vo/ pra/ com/ser/tar – 7 sílabas
Isso que fiz com os versos recebe o nome de Escansão, que consiste em separar as Sílabas Poéticas dos versos para facilitar o visual nas contagens da Métrica.
A Sílaba Poética pode ou não ser igual à gramatical, cabendo ao poeta decidir no instante da criação do poema. Normalmente, a Sílaba Poética costuma apresentar os sons naturais da nossa fala cotidiana, juntando num só tempo os sons de duas sílabas gramaticais de termos diferentes quando há um ditongo, como ocorreu nos versos 1, 2, 4, 7 e 9; nas vezes em que usei o hífen e mantive as sílabas gramaticais ligadas por ele.
Como a contagem métrica de um verso, por regra, encerra na sua última sílaba tônica, isso explica eu ter colocado 7 sílabas também no sétimo verso, cuja contagem total apresenta 8 sílabas, já que finda em palavra paroxítona.
Dá pra reparar o que aconteceu no oitavo verso, após todos os 7 anteriores apresentarem 7 sílabas?
Temos dois tipos de Versificação: Regular, que apresenta todos os versos com idênticas contagens métricas, e Irregular, que apresenta versos com diferentes medidas. Sabendo-se que todos os versos restantes da letra de Disparada apresentaram 7 sílabas poéticas, dá para atestar que o Vandré tentou fazer a letra inteira em Verso Regular.
Ora, então a composição apresenta um Verso Manco, que é aquele diferente dos demais em metro ou ritmo?
Sim, Vandré mancou aquele verso, mas prestem atenção nos textos desse verso, do anterior e do posterior e comparem as medidas. O anterior cita as coisas, o oitavo manca dizendo que elas estavam fora de lugar, e o nono diz pra que veio: - Consertar!
Oitavo verso com 8 sílabas, dentre os demais com 7, é um fino truque de poeta na versificação para reforçar a filosofia do texto do verso, mesmo que para isso tenha que manchar o poema com um Verso Manco.
No festival do ano seguinte Chico concorreu com a música Roda Viva. Dessa vez não ganhou, mas a letra da música apresentou a seguinte curiosidade na primeira estrofe:
Tem/ di/as/ que-a/ gen/te/ se/ sen/te – 8 sílabas
Co/mo/ quem/ par/tiu/ ou/ mor/reu – 8 sílabas
A/ gen/te-es/tan/cou/ de/ re/pen/te – 8 sílabas
Ou/ foi/ o/ mun/do-em/tão/ que/ cres/ ceu? – 9 sílabas
Novamente tivemos o surgimento de um Verso Manco numa estrofe, mas parece que tinha o endereço certo de um amigo para outro:
- Viu como o meu mundo CRESCEU em uma sílaba, amigo?
Em 1968 tivemos nova troca de recados entre eles. Chico escreveu uma peça, também chamada Roda Viva, que termina com os atores oferecendo ao público Flores, Flores e mais Flores, e no mesmo ano o amigo Vandré entra em outro festival com a música Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, que bem diferente de Disparada, sugere não ter sido feita em Versificação Regular, que dá à aparência do texto uma agradável Estética Simétrica.
Talvez, para poder atingir melhor a compreensão do texto pela massa popular, Vandré desta vez usou rimas de baixa qualidade, como as com os Vulgares sons ÃO, alguns gerúndios muito usados, e os infinitivos ER. Coisa bem Pobre mesmo.
Constatei interessantes estratégias com Verso Branco (verso sem rima com os demais da estrofe), que suponho ter sido uma brincadeira dele na construção do texto.
Basta reparar, já na primeira estrofe, que tivemos quatro versos nos sons parentes ÃO-ÕES, e um AIS solitário e perdido no meio deles, justamente no verso cujo texto sugere que sejamos IGUAIS. Acontece o mesmo com a FLOR na terceira estrofe, toda cercada por ÃO e ÕES e nenhum outro OR.
Na quinta estrofe temos dois Brancos, que embora tenham a mesma vogal tônica,I, fica muito difícil aceitar PERDIDOS rimando com ENSINAM, como que sugerindo um PERDIDO fazendo companhia para um que ENSINA sozinho. Isso volta a acontecer com outros dois versos na sétima estrofe, com solitárias RUAS fazendo companhia para os nossos mesmos e solitários IGUAIS lá da segunda estrofe.
Talvez, por apresentar truques poéticos que estejam além da minha humilde percepção, só consegui enxergar na Estética de Texto, que depende, no visual, da forma como os versos são dispostos nas estrofes; uma grande bagunça do Vandré nas diferentes maneiras com que cantou a música, inclusive no mesmo festival, pois na fase classificatória, que considero oficial pelo fato da Obra vir Prima, ele cantou a letra deste jeito:
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas nas ruas campos construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Inda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razões
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Nas escolas nas ruas
Campos construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Dentre as regras da construção poética, há uma que exige do poeta dar uma pausa no término de cada verso, logo, se ele não dá essa pausa, entende-se que não houve mudança de verso e a contagem métrica prossegue até que anuncie o fim do verso com uma pausa, ainda que breve.
Esse foi o motivo pelo qual registrei todas as vezes em que o refrão foi cantado na música, porque nem no refrão o Vandré conseguiu cantar da mesma maneira nessa gravação da primeira apresentação nas eliminatórias.
Há um outro recurso poético, o Cavalgamento, importado da Poesia Francesa com o nome Enjambement, que permite ao poeta, por questões de estética de texto, transferir parte do conteúdo sintático de um verso para o texto do verso anterior ou posterior, mas esse recurso exige que ele siga algumas regras, como a da breve pausa interior, que sugerem não terem sido respeitadas pela Interpretação Anarquista do Vandré.
Para entender o quadro que colocarei abaixo, aviso que as sílabas poéticas átonas estão em letras minúsculas, e as tônicas em maiúsculas e na cor vermelha, pois servem para indicar o equilíbrio ou não do Ritmo Poético, que é determinado pelas posições repetitivas das tônicas nos versos.
Para entender o comportamento da construção poética da letra não basta só ouvir a música, ou só ler a letra. Tem que prestar atenção na entonação que o poeta dá às sílabas na recitação do poema, ou na música cantada, que nada mais é do que a própria recitação com melodia.
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CA | mi | NHAN | do-e | can | TAN | do-e | se | GUIN | do-a | can | ÇÃO | ||
SO | mos | TO | dos | i | GUAIS | ||||||||
BRA | ços | DA | dos | ou | NÃO | ||||||||
NAS | es | CO | las | nas | RU | as | cam | POS | cons | tru | ÇÕES | ||
CA | mi | NHAN | do-e | can | TAN | do-e | se | GUIN | do-a | can | ÇÃO | ||
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | |
VEM | va | MOS | em | BO | ra | QUES | pe | RAR | não | É | sa | BER | |
quem | SA | be | FAZ | a | HO | ra | |||||||
NÃO | es | PE | ra-a | CON | te | CER | |||||||
VEM | va | MOS | em | BO | ra | QUES | pe | RAR | não | É | sa | BER | |
quem | SA | be | FAZ | a | HO | ra | NÃO | es | PE | raa | CON | te | CER |
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 |
PE | los | CAM | pos | há | FO | meem | gran | DES | plan | ta | ÇÕES | ||
PE | las | RU | as | mar | CHAN | do | |||||||
IN | de | CI | sos | cor | DÕES | ||||||||
IN | da | FA | zem | da | FLOR | ||||||||
SEU | mais | FOR | te | re | FRÃO | ||||||||
E-A | cre | DI | tam | nas | FLO | res | .ven | CEN | do-o | ca | NHÃO | ||
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 |
VEM | va | MOS | em | BO | ra | QUES | pe | RAR | não | É | sa | BER | |
quem | SA | be | FAZ | a | HO | ra | NÃO | es | PE | raa | CON | te | CER |
VEM | va | MOS | em | BO | ra | QUES | pe | RAR | não | É | sa | BER | |
quem | SA | be | FAZ | a | HO | ra | NÃO | es | PE | raa | CON | te | CER |
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 |
HÁ | sol | DA | dos | ar | MA | dos | |||||||
a | MA | dos | ou | NÃO | |||||||||
QUA | se | TO | dos | per | DI | dos | |||||||
de | AR | mas | na | MÃO | |||||||||
NOS | quar | TÉIS | lhes | en | SI | nam | |||||||
an | TI | gas | li | ÇÕES | |||||||||
DE | mor | RER | PE | la | PÁ | tria-e | vi | VER | sem | ra | ZÕES | *** | |
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 |
VEM | va | MOS | em | BO | ra | QUES | pe | RAR | não | É | sa | BER | |
quem | SA | be | FAZ | a | HO | ra | NÃO | es | PE | raa | CON | te | CER |
VEM | va | MOS | em | BO | ra | QUES | pe | RAR | não | É | sa | BER | |
quem | SA | be | FAZ | a | HO | ra | NÃO | es | PE | raa | CON | te | CER |
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 |
NAS | es | CO | las | nas | RU | as | |||||||
cam | POS | cons | tru | ÇÕES | |||||||||
SO | mos | TO | dos | sol | DA | dos | |||||||
ar | MA | dos | ou | NÃO | |||||||||
CA | mi | NHAN | do-e | can | TAN | do-e | se | GUIN | do-a | can | ÇÃO | ||
SO | mos | TO | dos | i | GUAIS | ||||||||
BRA | ços | DA | dos | ou | NÃO | ||||||||
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 |
OS | a | MO | res | na | MEN | te | |||||||
as | FLO | res | no | CHÃO | |||||||||
A | cer | TE | za | na | FREN | te | |||||||
A | his | TÓ | ria | na | MÃO | ||||||||
CA | mi | NHAN | do-e | can | TAN | do-e | se | GUIN | do-a | can | ÇÃO | ||
A | pren | DEN | doen | si | NAN | do | |||||||
U | ma | NO | va | li | ÇÃO | ||||||||
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 |
VEM | va | MOS | em | BO | ra | QUES | pe | RAR | não | É | sa | BER | |
quem | SA | be | FAZ | a | HO | ra | NÃO | es | PE | raa | CON | te | CER |
VEM | va | MOS | em | BO | ra | QUES | pe | RAR | não | É | sa | BER | |
quem | SA | be | FAZ | a | HO | ra | NÃO | es | PE | raa | CON | te | CER |
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 |
Notem que coloquei uma observação em negrito no verso que diz: De morrerpela pátria e viver sem razões ***
Na letra inteira, esse verso foi o único a apresentar duas sílabas tônicas seguidas, o que fez com que ficasse Manco por conta do Ritmo Poético, o que não ocorreria se Vandré tivesse colocado nessa mesma estrofe um outro verso com tais características de tonicidade em idênticas posições, terceira e quarta sílabas, pois isso seria interpretado pela versificação latina como Efeito Espondaico, mais comum à versificação da Grécia Antiga, cujos poetas usavam trabalhar frequentemente com os Pés Espondeus, que apresentam 4 tempos, sendo o primeiro fraco, o segundo e o terceiro fortes e o quarto fraco.
Para que esse verso não ficasse manco, bastaria que ele tivesse forçado um pouco mais a pronúncia do LHES dois versos antes: Assim:
NOS/ quar/TÉIS/ LHES/ en/SI/nam
Mas isso que demonstrei acima seria apenas uma solução fácil para salvar um verso manco, caso o poeta mais singelo estivesse preocupado em não cometer o erro, porém, em se tratando do Vandré, a probabilidade dele ter mancado o verso propositalmente é muito grande, já que o famoso “Morrer pela Pátria” sempre foi lema dos militares em guerra, e nunca o de um Poeta Mandrake escrevendo sobre eles na época em que mandavam no pedaço.
Fica muito difícil enxergar alguma proposta estética definida num poema, quando o poeta, na mesma obra, declama até os versos do repetitivo Refrão, com ou sem as pausas, de forma desordenada. Na final desse mesmo festival o Vandré cantou a música desta outra maneira:
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas campos construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Inda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição ** aqui
De morrer pela pátria
E viver sem razão ** e aqui até a letra mudou. O que era plural virou singular.
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Nas escolas nas ruas
Campos construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Como se isso não bastasse, há uma terceira gravação em que cantou desta forma:
Caminhando e cantando (pausa)
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas nas ruas
Campos construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar (pausa)
Não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
AInda fazem da flor *
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar
Não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem vamos embora que esperar
Não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar
Não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
Nas escolas nas ruas
Campos construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem vamos embora que esperar
Não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Assisti ao vivo aquele festival e, embora já costumasse contar nos dedos as sílabas poéticas das letras conferindo as pausas finais dos versos, embarquei naquela onda aplaudindo o Vandré e vaiando o Chico, principalmente, por causa da última estrofe de Sabiá, que contradizia tudo o que a letra dissera anteriormente. Só muitos anos após é que vim a saber que a estrofe final de Sabiá não tinha sido escrita pelo Chico, mas sim pelo parceiro, Tom Jobim, que fez aquilo para escapar da mesma Censura que complicou a vida do Vandré.
A pegada da letra do Vandré era muito mais forte do que a do Chico, pois, numa época em que tudo girava ao redor do protesto contra a ditadura militar vigente, Vandré era atual e o Chico todo nostálgico, dando uma de Gonçalves Dias com a Canção do Exílio na letra de Sabiá, embora a construção poética dele me desse maior segurança do que aquela instabilidade toda do Vandré nas diferentes interpretações da mesma música num mesmo festival.
Se fosse para escolher qual foi a melhor das interpretações do Vandré nessa música, ficaria com a última, cuja estética dos versos mostra-se mais regular, ou menos inconstante, ao abdicar da tentativa de trabalhar com os Versos Alexandrinos (12 sílabas) e optar pela maioria em Heroicos Quebrados (versos com 6 sílabas), pois, afinal, não há Herói que resista a essa longa ação do tempo entre 1968 e 2013.
Daria para deixar o poema com a nobreza dos versos longos, ou mesmo com o visual bonitinho e quadradinho dos curtos, como ocorre na maioria dos registros da letra nos vídeos já feitos, mas se ele preferiu cantá-lo nessas formas, não cabe a mim a pretensão de qualquer sugestão.
Quanto aos possíveis truques poéticos outros, honestamente, hoje já não me arrisco sequer a supor quais foram os recados dados de um para o outro naquelas músicas, mesmo porque no ano anterior o Chico também começou a fazer coisas deste tipo:
O homem da rua
Fica só por teimosia
Não encontra companhia
Mas pra casa não vai não
Em casa a roda
já mudou Que a moda muda
A roda é triste, a roda é muda
Em volta lá da televisão…
(A Televisão)
Pra depois de sumir por um tempo, chegar com este papo de quem tenta reconquistar a namorada?
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos de me enganar
Como fiz enganos de me encontrar
Como fiz estradas de me perder
Fiz de tudo e nada de te esquecer
(Sabiá – Chico e Tom)
Ver também -> http://mpbsapiens.com/caminhando-analise-de-texto/
Análise de Texto
Análise de Texto
http://www.vagalume.com.br/geraldo-vandre/pra-nao-dizer-que-nao-falei-das-flores.html
Ver Também - http://mpbsapiens.com/ditadura-mpb/
Voltar – > http://mpbsapiens.com/admiravel-gado-novo-analise-de-texto/ |
O ano de 1968 ficou marcado por muitos confrontos de opiniões, sendo a de |
maior destaque a decretação do chamado AI-5 – Ato Institucional número 5 - |
por parte do, ainda chamado, Regime Militar Provisório que nos governava, ou |
melhor, tentava fazê-lo, posto que havia, por outro lado, uma Indústria do |
Desgoverno fundamentada num pensamento já citado em postagens anteriores: |
“Os Estados modernos possuem uma grande força criadora: a imprensa. O |
papel da imprensa consiste em indicar as reclamações que se dizem |
indispensáveis, dando a conhecer as reclamações do povo, criando |
descontentes e sendo seu órgão. A imprensa encarna a liberdade da palavra. |
Mas os Estados não souberam utilizar essa força e ela caiu em nossas mãos. |
Por ela, obtivemos influência, ficando ocultos; graças a ela, ajuntamos o ouro |
em nossas mãos…” |
I |
Caminhando e cantando |
E seguindo a canção |
Somos todos iguais |
Braços dados ou não |
Nas escolas, nas ruas |
Campos, construções |
Caminhando e cantando |
E seguindo a canção… |
Refrão Repetido |
Vem, vamos embora |
Que esperar não é saber |
Quem sabe faz a hora |
Não espera acontecer…(2x) |
II |
Pelos campos há fome |
Em grandes plantações |
Pelas ruas marchando |
Indecisos cordões |
Ainda fazem da flor |
Seu mais forte refrão |
E acreditam nas flores |
Vencendo o canhão… |
Refrão Repetido |
III |
Há soldados armados |
Amados ou não |
Quase todos perdidos |
De armas na mão |
Nos quartéis lhes ensinam |
Uma antiga lição: |
De morrer pela pátria |
E viver sem razão… |
Refrão Repetido |
IV |
Nas escolas, nas ruas |
Campos, construções |
Somos todos soldados |
Armados ou não |
Caminhando e cantando |
E seguindo a canção |
Somos todos iguais |
Braços dados ou não… |
V |
Os amores na mente |
As flores no chão |
A certeza na frente |
A história na mão |
Caminhando e cantando |
E seguindo a canção |
Aprendendo e ensinando |
Uma nova lição… |
Refrão Repetido – 2x |
Um pouco antes do festival da canção de 1968, promovido pela globo no Rio |
de Janeiro, Chico já havia escrito a peça Roda Vida, na qual procurou mostrar |
a forma como a Indústria do Desgoverno agia na produção de ídolos populares. |
Nunca é demais lembrar do texto que finalizava à peça: |
Para nós, no Universo |
Só existe paz e amores |
Nós só cantamos um verso |
Que fala em flores, flores, flores |
Há quem nos fale de guerra |
Morte, miséria terrores |
Quando nos falam de terra |
Plantamos flores, flores, flores |
Flores, flores |
Quem não gostou desta peça |
Saia daqui, diga horrores |
Nos divertimos à beça |
E tomem flores, flores, flores |
http://mpbsapiens.com/roda-viva-a-peça-parte-4/ |
Se, em Disparada, Vandré passara a Chico a idéia da peça Roda Viva, bem |
como a do livro Fazenda Modelo; Chico, com esse texto final de Roda Viva, |
praticamente devolvia a Vandré o favor anterior, mostrando estar a relação |
entre os dois baseada no Diálogo Artístico, mas de cunho social semelhante. |
Tratavam das mesmas preocupações sociais, com idênticas estratégias de ação, |
mas com estilos musicais diferentes. Apenas isso. |
O título da composição acima, Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, que |
causou toda a polêmica no festival, era apenas uma continuação do diálogo |
artístico-social iniciado três anos antes em Sonho De Um Carnaval. |
Nesse festival, fadado a se tornar uma repetição de 66, que registrou a um |
empate entre os dois, mais uma vez mostrava cada um no estilo próprio de |
contestação. Vandré externando o sentimento de forma mais próxima à do |
desconforto popular, e Chico externando a posição do artista diante daquela |
pressão das Forças Dominantes. |
A exemplo de Disparada, Vandré trás na estrofe I os mesmos sonhos comuns, |
dele e do Chico, em 1965 com Porta Estandarte e Sonho De Um Carnaval: |
http://mpbsapiens.com/disparada-analise-de-texto/ |
http://mpbsapiens.com/porta-estandarte-o-sonho-de-vandre/ |
http://mpbsapiens.com/sonho-de-um-carnaval-analise-de-texto/ |
O Refrão já mostra um desconforto pela permanência do estado de sonho e |
clama por mais Re Ação nossa, semelhante ao ocorrido na mesma Disparada: |
E nos sonhos que fui sonhando |
As visões se clareando |
Até que um dia acordei |
- Uma vez despertado de sono e sonho, reagir a que? |
- Às atrocidades cometidas pelos militares nacionalistas contra os grupos que |
se clamavam socialistas, ou ao texto que coloquei logo acima da letra da |
composição e ele conhecia muito bem? |
A estrofe III mostra bem a persistência dele na indecisão do protesto. Se por |
um lado procura mostrar as nítidas diferenças sociais presentes, denunciando à |
escravidão do povo em benefício das Forças Financeiras Dominantes, por outro |
usa um figurativo ao confrontar as flores do povo com o canhão dos militares. |
A fome em grandes plantações sempre foi óbvia, desde o tempo em que fomos |
“premiados” pela dádiva do Raciocínio que nos difere. |
Essa insegurança nas intenções de denúncia está latente nos versos: |
Pelas ruas marchando |
Indecisos cordões |
Ele vê que o povo continua sonhando com o confronto Flores x Canhão, sabe |
quem alimenta as ilusões e nada pode fazer. Mas continua tentando abrir os |
nossos olhos, que o admiravam e aplaudiam, justicando à estrofe III. |
Muito acima de qualquer ataque direto aos militares, essa estrofe III, a mais |
famosa da composição, apenas colocava os militares nos mesmos indecisos |
cordões em que marchávamos na estrofe II, pois embora armados, os soldados |
não sabiam o que fazer com as armas, justamente pelo despreparo semelhante |
ao nosso, com outros sonhos passados pelos superiores, mas também sonhos. |
Com Povo e Militares adormecidos vem novamente o Refrão com o alerta: |
- Acordem. Esperar não é saber. Façamos a própria hora, a própria História! |
Na estrofe IV tenta novamente mostrar que estávamos todos num mesmo |
barco, apesar das diferenças filosóficas alimentadas pela imprensa, mas já meio |
desanimado. Um desânimo típico do poeta que escreveu, mas sente que faltou |
alguma coisa, como que retraindo ao sentimento já exposto. |
O Refrão é esquecido. |
Na última estrofe procura resumir a tudo o que tentou dizer nas demais, onde |
buscou mostrar o problema da insegurança social, mas apresentando uma |
Solução muito menos sonhadora, com o seguinte recado do cidadão Vandré: |
- Quem ama repara na flor que nasce, mas se o amor é ideológico confie na |
própria História, sua única aliada, renascendo a cada dia com as soluções para |
os problemas do dia anterior! |
Aí o Refrão volta com todo o seu vigor. |
Em meio àquela hostilidade toda que mostramos na final do festival de 68, havia |
dois poetas que pouco necessitavam conversar para se entender. Imagino o que |
a essência poética de um, ovacionado pela nossa burguesia cultural, não deva |
ter sentido ao escutar do outro, vaiado pela nossa Ignorância Induzida, isto: |
Vou voltar |
Sei que ainda vou voltar |
Não vai ser em vão |
Que fiz tantos planos de me enganar |
Como fiz enganos de te encontrar |
Como fiz estradas de me perder |
Fiz de tudo e nada de te esquecer. |
http://mpbsapiens.com/sabia-analise-de-texto/ |
Era a pura tradução do conflito Poeta x Cidadão, ambos Vandré, expostos na |
sua composição, só que escritos na Sabiá concorrente pelo mesmo jovem |
poeta que incentivara três anos antes. |
- Quantos de nós sabia que a estrofe final de Sabiá, que jogou a imagem do |
Chico pra turma do Eu Te Amo Meu Brasil, fora escrita pelo Jobim para |
fugir da censura? Infelizmente, daquele festival, só nos restou uma certeza que |
nem pertenceu a ele, mas pulsa até hoje na História da MPB: |
O samba, a viola, a roseira |
Um dia a fogueira queimou |
Foi tudo ilusão passageira |
Que a brisa primeira levou |
No peito a saudade cativa |
Faz força pro tempo parar |
Mas eis que chega a Roda Viva |
E carrega a saudade pra lá… |
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